Quando recebi a missão de ser o Gestor de ESG / QSMS-RS e Sustentabilidade, na construção de um projeto que integrava a construção de um porto, ferrovia e eletrificação através da selva subsaariana africana, não tinha ideia dos desafios que poderia enfrentar.
Mesmo com experiência de trabalhos no trecho na selva em projetos na Amazônia e África (perfurações, mineração, portos e construção civil pesada).
Era a primeira vez que nosso acampamento base, seria ao lado de um campo de refugiados de guerra e dentro de uma base de soldados da ONU, em um tríplice fronteira onde dependendo da direção da bola fora em nossas peladas de domingo, poderíamos falar em francês, inglês ou em um dialeto africano.
Quem nunca esteve em um campo de refugiados, ainda mais em países que foram destruídos completamente por guerra civil por anos, onde a noção de ética, moral e cristã foram esquecidas a tempo, não tem ideia de como o conceito de humanidade passa longe.
Onde passei admirar mais ainda os médicos sem fronteiras, missionários, que no meio do nada, da miséria humana, se doam de uma maneira que me deixava com vergonha de mim mesmo.
Até hoje, tenho em mente, depois de horas abrindo frentes no meio da selva de repente encontrávamos duas jovens missionárias europeias ou americanas caminhando do nada para ajudar as vilas.
Muita fé e coragem.
Mas como gestor, entre as minhas responsabilidades era elaborar os procedimentos, planos e manuais de Segurança do trabalho dentro do nosso SGI (QSMS-RS) e Sustentabilidade para nosso projeto no meio deste novo cenário que se abri a nossa frente.
A identificação, análise riscos e elaboração de uma matriz não é um trabalho que você realiza sozinho;
Muito pelo contrário, é nessas horas que a experiência, mas muita experiência e visão ampliada, de terceiros que já trabalham na área ou sobre a mesma situação no passado contam muito na elaboração da matriz.
Não adianta ser o maior especialista de gestão de risco, ou possuir o melhor software de risco, se quem participa não tem vivência sobre o assunto, ou passou a vida toda no escritório no ar-condicionado ou em uma fábrica e vai dar palpite no trecho, não funciona.
Pois bem, matriz de risco elaborada, riscos elencados, classificados e vamos a elaboração dos procedimentos, planos etc.
E como sempre, vieram as reclamações, pelo exagero, que estávamos vendo fantasmas onde não existia etc.
Já fui chamado atenção por diretores dizendo que eu era muito certinho !!!!!, e inflexível, e deveria mudar.
E sabe meus amigos……, eles tinham razão.
Quando você é responsável pela segurança do trabalho dos colaboradores e de proteger o meio ambiente, SOU MESMO.
Bem …….., nada diferente do que já tivesse enfrentado antes em outros projetos seja em selva ou deserto.
Mas como fui convidado para ser o gestor, baseado na minha experiência nestes projetos, fazia parte do pacote e estava dentro do esperado.
Mas nesse caso, grande parte da direção e da equipe vinham de obras de cidades, sem nenhuma experiência em obra remotas e principalmente fora do país de origem.
E aí que a tal “percepção de risco, pesa “
A percepção de risco é muito particular, cada um tem sua visão do que é risco e perigo.
Existe uma influência cultural muito forte nesta visão de risco.
Percepção de risco, podemos dizer que seria a avaliação das probabilidades de que algum perigo venha a se manifestar concretamente, e estimar a magnitude dos efeitos de um evento provável.
Nós cariocas por exemplo, quando voltamos para casa de madrugada no RJ caminhamos no meio da rua, para evitar ser pego de surpresa na calçada.
Quando observamos alguém andando pela calçada na madrugada ou parando no sinal vermelho, sabemos que não é do RJ. rsrsrs
Para nós gestores de ESG / QSMS-RS e Sustentabilidade e do RH, a empatia, a persuasão, liderança por exemplo são fundamentais para mudar a visão do que é risco e perigo e com isso estimular o comportamento seguro.
Só pela força da lei, nunca vi funcionar. O poder de persuasão é fundamental para o sucesso.
Continuando……..
Entre vários procedimentos, treinamentos e TDS e por aí fomos no dia a dia de nossa operação no trecho.
Nosso alerta era para principalmente para não saíssem do acampamento sem avisar, dizer aonde ia, e seria o mais prudente não sair.
Mas se tivesse que sair, existia todo um procedimento a ser seguido.
Quase fui linchado, e a ladainha de novo começou, conforme mencionei acima com os mesmos comentários.
Meu café ainda estava quente (gosto frio), madrugada e esperando o sol aparecer para iniciar a operação.
Me chamam no rádio e a primeira coisa que vem cabeça neste momento, é acidente ou de trabalho ou ambiental.
Era o comandante da base dos soldados da ONU, informava de um acontecimento com os nossos colaboradores.
E que viesse rápido.
A cena era uma das piores que eu poderia imaginar.
Nossos colaboradores, homens e mulheres, resolveram deixar o acampamento, sem avisar, sem levar rádios, com a permissão o gerente do contrato e sem que eu soubesse, pois como eles mesmos disseram, se eu soubesse não teria deixado.
Tinham resolvido ir” aproveitar” a selva africana perto de uma cachoeira, ver os animais etc.
Foram atacados, brutalizados, violentados, roubados e deixados na selva sem roupas.
Acredito não ser necessário descrever mais sobre esta tragédia.
Não me perdoo até hoje o acontecido, como falhei em não ter tido o poder de persuasão com nossos colaboradores, sobre o risco inerentes ao local.
Como gestor de QSMS-RS e Sustentabilidade entre as várias obrigações da minha função, a de proteger o colaborador, eu tinha falhado.
Elaboramos uma matriz com o risco, com as informações que pudemos levantar sobre aquela região de conflitos, participaram delas soldados da ONU, missionários que á anos estavam no campo de refugiados, colhemos as informações sobre animais e a guerrilha, elaboramos procedimentos, integração bem detalhada, diálogos de segurança e palestras e no final falhei.
A percepção de risco é uma coisa complexa, depois deste acidente tenho lido e estudado diversos autores sobre o que é, e como funciona a percepção de risco para evitar acidentes de trabalho e ambientais.
E me deixa furioso quando se resume um acidente como falta de percepção de risco e ponto final.
É muito mais que isso!
Nós gestores temos que entender de como é importante compreender como as pessoas interpretam e integram os diversos elementos da realidade e formam ideias sobre o que pode ou não acontecer.
Nesse âmbito, o conhecimento dos processos é fundamental.
É necessário entender a influência de fatores como a experiência, o conhecimento técnico, o estado afetivo, os valores individuais acerca da segurança, bem como outros muitos aspectos do contexto laboral sobre a percepção de risco.
É importante entender o que faz com que pessoas façam estimativas diferentes acerca dos riscos oferecidos numa mesma situação e ademais, como o mesmo risco parece ser mais aceitável para uns que para outros.
Esses aspectos devem, certamente, ser explorados de modo identificar a probabilidade de ocorrência de atos inseguros e, consequentemente, garantir melhor resultados em sua prevenção.
Enfim, percepção de risco é um assunto muito rico e sério!
Gestores de QSMS-RS e Sustentabilidade, não deixem de estudar e entender o que é percepção de risco.
E como ajudar nossos colaboradores quanto a prevenção de acidentes de trabalho e ambientais.
Estamos juntos!