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Reassentamento de comunidades, entre a emocional e o resultado , em tempos de ESG ,não pode ser realizado por amadores!

A fumaça do café requentado ainda era forte, 04:30 da manhã na selva em algum lugar na África Oriental, névoa húmida ainda sobre a selva.

Missão :Reassentar 3.000 mil famílias, por causa da construção /inundação da Hidroelétrica.

Quem é do trecho sabe que começamos com a luz do dia, máquinas apostas, colaboradores cerca de 900 prontos para derrubar tudo, 98% das famílias já reassentadas em outra localidade, pessoal da Biologia pronto para resgate de fauna.

E….., já se perguntaram por que falta 2%?

Não era uma missão nada nova pois já havíamos reassentados milhares de famílias nos projetos da Etiópia, Sudão do Sul, Quênia, Ruanda e Uganda naqueles anos, todos baixo supervisão dos auditores /observadores do IFC e outros bancos financiadores, tarefa emocionalmente desgastante, árdua e muita adrenalina.

Como de costume antes de regressar ao Brasil na folga e depois quando chego, tenho por hábito realizar uma ronda em todas as linhas de frente dos países onde sou responsável (nunca acreditei em Liderança dentro do escritório) e essa era minha última parada antes de voltar para 10 dias de folga na terrinha.

Sabe aqueles 2% que faltam, pois é.

Uma única família em algumas casas, na vila já praticamente reassentada, ainda não tinham saído do local.

A anciã cerca 80 anos (eu acho), bem conhecida e respeitada, estava muito doente, e quis falecer onde tinha nascido.

E na calada da noite ocupou a casa dela que ia ser destruída como a dos outros seus familiares acompanhando-as.

Eu a conhecia muito bem, pois desde o início foi meu elo com toda a vila, adorava café e sempre trazia do Brasil para ela, sobrevivia com muito pouco e me chamava de meu filho branco.

Tinha uma especial afeição por ela e nossa equipe local sabia disso, aliás nunca escondi, sem ajuda dela em transferir e reassentar aquela vila seria um desastre (depois conto em minhas palestras meus fracassos em reassentamento)

Pois bem, pego de surpresa ao amanhecer com a notícia, fui à casa dela, ela mal me reconhecia e a família toda em volta esperava seu último suspiro.

Lá fora, cerca de 5O máquinas pesadas,900 homens e um gerente de operação gritando dizendo que para começar.

Ao presenciar aquela cena na sua casa (na realidade uma cabana de um cômodo sem banheiro nem nada, chão de terra etc.)

A família pediu que esperasse até seu descanso.

Que situação ???, não esperava e tinha que tomar uma decisão.

Tomei, e logo pensei onde ia ter que arrumar emprego.

Parem as máquinas, para tudo e esperemos.

O gerente de produção na mais educada maneira do trecho, queria me matar e disse que ia passar com a máquina encima etc.

Eu disse que não e vamos esperar.

Liga diretor, liga a matriz, insinuaram que iam me demitir, mas já experiente da área, e com uma posição hierárquica alta bati o pé e disse aguenta.

Minha amiga veio a falecer três dias depois, chorei, como chorei ela realizou o sonho dela e eu ajudei (será que algum um dia ainda alguém vai ajudar a realizar meu sonho?).

Fiquei esses dias todos acompanhando de perto com nossa equipe.

À enterramos, participei do luto tribal e reassentamos 100% da vila, ou seja; Etapa número 1 cumprida, as outras etapas do reassentamento estavam por vir com suas respectivas dores de cabeça (as de sempre).

Meses depois, visita do CEO, board, pessoal do IFC e outros bancos financiadores, autoridades etc.na nova vila, jornalistas, a área de comunicação falando sobre sustentabilidade e mais e mais.

Não estava, não fui convidado, mas se lembraram de mim, pois descontaram no meu bônus os dias parados de trabalho, ou melhor não me deram meu bônus e fiquei devendo.

O líder da vila ao receber os nobres convidados em seu discurso traduzido revelou se não tivéssemos respeitado o desejo na minha amiga, iriam fazer uma guerra contra nosso projeto e em tom ameaçador disse que ia até a recorrer aos senhores da guerra (Warlords) ajuda.

Silencio na cerimônia e desconforto (assim e disseram).

Obras de infraestrutura em que a desapropriação de propriedades é necessária usualmente requerem programas de Compensação Social bastante diversificados e complexos.

Isso envolve desde indenização de propriedades e pode implicar na relocação involuntária de população e/ou atividades econômicas.

Frequentemente podem ocorrer processos de desvalorização imobiliária exigindo estratégias específicas de compensação.

A infraestrutura local afetada e outras instalações públicas precisam ser repostas.

A compensação pode incluir assistência com a recolocação de colaboradores, quando a remoção de atividades econômicas resulta na perda de empregos.

Entre as medidas complementares que podem vir a ser necessárias incluem-se também programas de assistência técnica e projetos de fortalecimento institucional.

Exige muita negociação com autoridades locais e comunidades.

Estratégias de reassentamento normalmente levam em consideração:

As responsabilidades organizacionais e os arranjos institucionais entre as entidades participantes, incluindo arranjos para o financiamento do reassentamento.

A avaliação do marco legal do reassentamento, inclusive no relativo a ocupações irregulares e direitos de comunidades tradicionais;

O planejamento de cadastros físicos e socioeconômicos;

As políticas e metodologias de valoração de imóveis e benfeitorias;

Os procedimentos para a compensação pela perda de renda;

A definição das opções de reassentamento e tipos de projeto;

A definição da matriz de elegibilidade segundo cada categoria de pessoas afetadas pelo projeto;

O planejamento dos procedimentos de consulta pública e participação das comunidades afetadas;

Os mecanismos de atendimento a reclamações;

As estratégias de mitigação de impactos nas comunidades receptoras da população reassentada;

Os procedimentos de monitoramento e avaliação, incluindo o monitoramento pós-reassentamento;

Os procedimentos de documentação da implementação do plano, incluindo a especificação do conteúdo dos relatórios a serem gerados.

 E Exige Muitaaaaaaaaaaaaaaaaaaa sensibilidade por parte da equipe responsável.

NÃO É PARA AMADORES, ou quem fica escrevendo lá no ar-condicionado o programa e nunca vem ficar um tempo na área ou no máximo uma visitinha de consultoria.

Trabalhar com comunidades e reassentamento, é gostar de gente.

Que minha amiga descanse em paz

Estamos juntos!

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