Com a publicação da Resolução CVM nº 193, o Brasil deu um passo à frente ao adotar padrões internacionais de relatórios de sustentabilidade, alinhando-se às normas IFRS S1 e S2.
Essa regulação exige que as organizações de capital aberto apresentem relatórios de sustentabilidade a partir de 2026, com um adicional crítico: a partir de 2027, esses relatórios devem passar por auditoria independente com asseguração razoável.
A inclusão da asseguração razoável representa um desafio significativo para as organizações, pois exige não apenas transparência e rastreabilidade, mas também precisão técnica que garanta a credibilidade dos dados ESG.
Este artigo aborda os principais desafios dessa transição e oferece insights sobre como as organizações podem se preparar.
A asseguração limitada busca reduzir o risco a um nível aceitável, mas permanece maior do que na asseguração razoável.
O auditor, nesse caso, conclui de forma negativa, indicando que não encontrou evidências de irregularidades.
Além disso, a preparação para a auditoria razoável ESG demandará uma revisão dos controles internos, treinamento das equipes envolvidas e, muitas vezes, a adoção de novas tecnologias para coleta, consolidação e reporte das informações de sustentabilidade.
Investimentos em ferramentas digitais, automação de processos e capacitação serão fundamentais para garantir que os dados estejam prontos para a verificação independente e atendam aos requisitos de qualidade exigidos pelos auditores.
A asseguração razoável é um nível de auditoria mais rigoroso em comparação à asseguração limitada, que geralmente é aplicada em relatórios de sustentabilidade.
Enquanto a asseguração limitada avalia se as informações são plausíveis, a asseguração em si exige evidências mais robustas e verificações aprofundadas, similares às auditorias de demonstrações financeiras.
No contexto da CVM 193, isso significa:
Evidências robustas:
As organizações precisarão revisar e aprimorar seus mecanismos de governança para garantir que as evidências apresentadas aos auditores sejam robustas, documentadas e facilmente acessíveis.
Isso inclui a implementação de políticas claras de documentação, controles internos sólidos e procedimentos de revisão periódica dos dados reportados, a fim de antecipar possíveis questionamentos durante a auditoria.
Todas as informações ESG apresentadas devem ser respaldadas por documentação e processos verificáveis.
Conformidade com padrões internacionais:
Os relatórios devem atender às normas IFRS S1 e S2 e outras regulamentações locais.
Alta precisão:
Pequenas discrepâncias ou inconsistências podem ser sinalizadas durante o processo de auditoria.
Esse nível de exigência aumenta significativamente a responsabilidade das organizações em relação aos dados que reportam.
Organizações terão que lidar com alguns desafios frente a este novo cenário:
1. Estruturação de Sistemas e Processos
A asseguração razoável requer dados ESG confiáveis e bem estruturados.
Muitas organizações ainda dependem de processos manuais e descentralizados, o que dificulta a rastreabilidade e a consistência.
Exemplo:
Para atender às exigências da asseguração, uma empresa que reporta emissões de carbono precisa ter um sistema integrado que registre desde o consumo de energia nas operações até as emissões totais calculadas.
2. Qualidade e Disponibilidade de Dados
A ausência de dados padronizados ou históricos ESG é um dos maiores obstáculos.
A asseguração razoável exige que as organizações mantenham registros detalhados e consistentes ao longo do tempo.
Desafio Adicional:
Dados ESG geralmente vêm de múltiplas fontes, como fornecedores e unidades operacionais diversas, o que dificulta a uniformidade.
3. Capacitação Interna
A nova regulamentação requer equipes qualificadas para lidar com a complexidade dos relatórios ESG auditáveis.
Além disso, as auditorias externas exigem que as organizações tenham processos internos alinhados aos padrões IFRS e aos requisitos de asseguração.
Impacto:
Organizações precisarão investir em treinamento e contratação de especialistas para gerenciar o aumento da complexidade técnica.
4. Custos Operacionais
A transição para asseguração razoável demandará investimentos significativos em tecnologia, processos e auditorias externas.
Pequenas e médias organizações podem enfrentar dificuldades financeiras para se adequar.
5. Integração com Estratégias Financeiras
A abordagem exigida pela dupla materialidade, que conecta impactos ESG à performance financeira, aumenta a complexidade dos relatórios. Essa integração ainda é um território novo para muitas organizações.
6. Engajamento de Stakeholders
A asseguração razoável aumenta a responsabilidade da empresa em demonstrar a veracidade das informações a seus stakeholders.
Isso exige maior transparência e uma comunicação mais estruturada.
Para se preparar para essa nova fase de publicação das demonstrações financeiras, existem alguns caminhos para as organizações se preparar:
Fortalecer Sistemas de Gestão de Dados:
Realizar Auditorias Internas Preliminares:
Capacitar Equipes:
Estabelecer Relacionamento com Auditores:
Integrar ESG à Governança Corporativa:
A exigência de asseguração razoável a partir de 2027 representa um marco para a sustentabilidade corporativa no Brasil.
Embora traga desafios técnicos, financeiros e organizacionais, também oferece uma oportunidade única para as organizações fortalecerem sua governança, transparência e competitividade.
Organizações que se anteciparem a essas mudanças estarão mais bem posicionadas para atender às expectativas de investidores, reguladores e demais stakeholders, enquanto promovem práticas ESG robustas e responsáveis.
Além disso, investir em tecnologia e automação dos processos de coleta e análise de dados pode facilitar o cumprimento das novas exigências de asseguração, reduzindo riscos e aumentando a eficiência operacional.
O envolvimento ativo da alta liderança é fundamental para garantir o alinhamento estratégico e o comprometimento de toda a organização com essa transformação.
A preparação deve começar agora, com o fortalecimento de sistemas, capacitação de equipes e engajamento estratégico.
Se sua organização ainda não começou a se preparar para a asseguração razoável prevista pela CVM 193? agora é o momento ideal para agir.
Estamos juntos