Há alguns anos, com a publicação da portaria do Banco Central do Brasil referente à avaliação do apetite de risco pelas instituições financeiras, muitos profissionais do setor apresentaram dificuldades em compreender seu conceito e a forma como essa diretriz se alinha integralmente aos princípios ESG, bem como o impacto resultante na gestão organizacional.
E o que é Apetite ao Risco?
O apetite ao risco representa a quantidade de risco que uma organização está disposta a aceitar ou reter para alcançar seus objetivos.
Determinar e articular esse apetite é essencial para que as organizações tomem decisões mais informadas, considerando o risco de maneira eficaz.
Enquanto a avaliação de risco permite compreender a exposição a riscos, é o apetite e a tolerância ao risco que determinam quanto risco a organização está disposta a assumir.
Definir esses conceitos auxilia na tomada de melhores decisões, pois esclarece os limites aceitáveis e orienta a atuação da organização.
Somente ao compreender claramente o apetite ao risco e sua tolerância, a organização consegue avaliar se sua exposição está dentro dos limites aceitáveis.
É importante destacar que esses limites podem mudar conforme as prioridades, estratégias e expectativas de partes interessadas evoluem ao longo do tempo.
Estamos bem até aqui?
Vamos agora tentar ser o mais didático para vocês meus colegas.
Orientações para Definir o Apetite ao Risco
Esta seção oferece orientações gerais para apoiar o gerenciamento de riscos, incluindo o objetivo de definir o apetite ao risco e seus benefícios, a compreensão dos conceitos de apetite e tolerância ao risco e exemplos práticos de como expressá-los.
Definições;
- Apetite ao risco:
É a quantidade de risco que a organização aceita ou retém para atingir seus objetivos, geralmente expressa em declarações que refletem a postura da organização quanto à tomada de riscos.
Normalmente, essas declarações se alinham a diferentes categorias de risco, como financeiro, pessoas e reputação, e variam conforme o contexto da organização.
- Tolerância ao risco:
Refere-se aos níveis aceitáveis de risco para alcançar objetivos específicos ou gerenciar categorias de risco.
Representa a aplicação prática do apetite ao risco, preferencialmente usando métricas quantitativas para facilitar o monitoramento e a revisão contínua.
Enquanto o apetite ao risco estabelece o tom para a assunção de riscos, a tolerância ao risco define expectativas e limites para a mitigação, aceitação e busca por riscos específicos.
Assim, orienta as ações e consequências caso os limites sejam ultrapassados.
Benefícios de Definir o Apetite ao Risco
- Tomada de decisão consciente:
Ao esclarecer o quanto de risco é aceitável, as decisões tornam-se mais rápidas e informadas, facilitando a adoção de novos programas e a melhoria de processos.
- Gestão consistente de riscos:
O apetite ao risco comunica claramente os limites, promovendo decisões mais alinhadas e consistentes em toda a organização.
- Transparência e oportunidade:
Declarações explícitas de apetite ao risco aumentam a transparência, permitindo identificar oportunidades para assumir riscos adicionais ou agir diante de riscos inaceitáveis.
- Estruturação do debate executivo:
Uma abordagem estruturada facilita o diálogo entre executivos sobre níveis desejáveis de risco, incentivando debates construtivos.
- Calibração dos processos de avaliação:
O apetite ao risco bem definido serve de base para o desenvolvimento de processos e narrativas de avaliação, suportando a definição de respostas adequadas a diferentes níveis de risco.
Estrutura da Declaração de Apetite ao Risco
A combinação entre apetite ao risco e tolerância compõe uma declaração estruturada, que normalmente inclui:
- Endosso do executivo sênior, destacando a importância da tomada de riscos informados;
- Definição clara do que é o apetite ao risco e sua aplicação;
- Declaração geral do apetite da organização, incluindo a postura diante da aceitação e assunção de riscos;
- Declarações de tolerância ao risco, alinhadas a categorias e subcategorias, frequentemente apresentadas em tabelas com níveis de tolerância (de muito baixa a muito alta) e suas condições e limitações.
Limites e Gatilhos de Tolerância ao Risco
Para orientar ações, as declarações de apetite ao risco devem conter limites e gatilhos de tolerância.
Os limites definem o ponto em que uma ação corretiva é obrigatória.
Tanto limites superiores quanto inferiores ajudam a estabelecer os limites da variabilidade aceitável de desempenho.
Uma vez estabelecidos, os gatilhos de risco determinam quando uma escalada deve ocorrer, caso o perfil de risco se aproxime do limite de apetite.
Assim, delimitam a “zona ótima” para a gestão do risco.
Etapas para Definir o Apetite ao Risco
Etapa 1: Identificação da Capacidade de Risco
A definição do apetite ao risco deve estar alinhada aos objetivos da organização.
Para isso, é necessário identificar sua capacidade de risco, ou seja, o nível máximo de risco suportável dentro das restrições orçamentárias e expectativas das partes interessadas.
Essa capacidade pode ser expressa em limites orçamentários, obrigações regulatórias e demandas de stakeholders.
O resultado é uma estratégia documentada que conecta objetivos, prioridades de gestão de risco e esclarece:
- Quais riscos precisam ser gerenciados para atingir os objetivos;
- As capacidades para a estão e o gerenciamento desses riscos.
Etapa 2: Desenvolvimento de Declarações e Limites de Tolerância
O processo de elaboração das declarações de apetite e tolerância ao risco varia conforme as características e complexidade do ambiente da organização.
Envolve consultas às principais partes interessadas e considera o contexto interno e externo.
Etapa 3: Monitoramento e Relato
Após a definição do apetite ao risco, é essencial monitorar continuamente o desempenho em relação a ele.
Isso inclui avaliar a exposição real ao risco, ajustar decisões e recursos conforme necessário e utilizar indicadores-chave de risco (KRIs) para comparar a exposição com os limites estabelecidos.
Limites e gatilhos de tolerância devem ser atribuídos a cada KRI para acompanhar as diferentes zonas de tolerância.
No protocolo de monitoramento, é fundamental:
- Identificar claramente os responsáveis pela gestão do risco;
- Garantir disponibilidade de dados confiáveis ou medidas alternativas;
- Alinhar prazos de risco aos do planejamento corporativo, evitando assunção excessiva ou insuficiente de riscos.
Etapa 4: Controle e Correção
Com base no monitoramento, a organização avalia as ações corretivas são necessárias, podendo aumentar ou diminuir a exposição ao risco ou reavaliar o próprio apetite ao risco.
O objetivo é assegurar que exposições inaceitáveis sejam tratadas de forma oportuna e informada.
As ações típicas incluem:
- Avaliar oportunidades para assumir mais riscos se o perfil estiver abaixo do limite inferior;
- Considerar ações corretivas e controles adicionais se o perfil estiver acima do gatilho superior;
- Implementar medidas corretivas se o perfil exceder o limite superior;
- Adotar um plano de recuperação se o perfil ultrapassar a capacidade de risco, evitando crises.
Por exemplo, diante de um risco de atraso em projeto acima do gatilho superior, pode-se reduzir o escopo ou alocar mais recursos para retornar ao nível desejado.
Uma abordagem eficaz de apetite ao risco vai além da mera conformidade, promovendo a comunicação sobre os riscos mais relevantes, ampliando a transparência e permitindo que todos os envolvidos compreendam a postura da organização.
Isso facilita a identificação de oportunidades para inovar e assumir riscos controlados ou, ao contrário, ajustar processos diante de exposições indesejáveis.
Assim, a organização se prepara melhor para antecipar e planejar riscos futuros.
Estamos juntos