Quais são os cenários de riscos ESG na área do QSMS-RS da sua organização?
Como podem ser identificados? Como devem ser avaliados?
Por exemplo;
A pandemia ou o as mudanças climáticas estavam no seu PGR?
Plano de gestão de Crise e continuidade dos negócios (PCN)?
Estava no seu PAE?
Vai me dizer que você tinha um plano de gestão de crises e continuidade do negócio em ambos os exemplos mencionado acima, sério mesmo????
Provavelmente não, mas estaria no meu com certeza.
Mas aí não vale, já tinha passado pelo Ebola, grandes secas e enchentes na minha vida profissional como gestor!
Será que a melhor gestão de risco em segurança do mundo, está previsto o ataque de um crocodilo na matriz de risco?
Bem, com nosso colega responsável pelo QSMS-RS nos parques da Disney parece que não.
Infelizmente houve uma fatalidade com um menino de 5 anos no ano de 2016, assunto bem divulgado na mídia.
Mas não é o único caso.
Quando construíamos uma ferrovia e uma linha de energia no delta do Okavango (África), tínhamos todo os procedimentos de segurança escritos.
Inclusive com as lições aprendidas de outras regiões com a mesma situação, já que tínhamos experiência de diversos trechos na África e na Amazônia equatorial.
E como de costume e sempre, mas sempre mesmooooo, chamava a todos para participar na matriz de risco antes de iniciarmos as operações.
Consultando os líderes das tribos e vilas da região sobre quais eram os maiores perigos que deveriam ter preocupação e montar nossa estratégia de procedimento para segurança dos nossos colaboradores.
Ouvimos desde queda de raio, até medo de ser tornar estéril por causa dos raios se caíssem perto da aldeia.
Mas ninguém falou de crocodilos com “ênfase”, para eles uma questão normal do dia a dia eu acredito.
Já tínhamos um procedimento quanto a trabalhar perto de áreas com muitos crocodilos, nossos biólogos e o pessoal local nos orientava.
Mesmo assim alguns costumes e hábitos não foram cobertos para nossa atenção e acabamos perdendo um colaborador por ataque de crocodilo, pasmem bem longe da beira do rio.
Não me perdoo até hoje, por essa minha falta de atenção em ir a fundo na montagem da matriz de risco e procedimentos de prevenção.
Como é importante e fundamental uma equipe multidisciplinar pensando em tudo, mesmo assim falhei em deixar passar.
Muitos pensam que gestão de risco se resume a cálculos e probabilidades, mas a gestão é muito mais que isso.
A matriz de riscos é uma ferramenta capaz de proporcionar um overview ao gestor de risco, ao conselho e aos gestores nos diversos níveis dos principais riscos de determinada organização e somente isto.
Saber a dimensão de cada risco em termos de probabilidade (frequência) e impacto (severidade) é o mínimo que um gestor de risco, um membro de conselho ou qualquer gestor em qualquer nível deva saber.
Normalmente, as matrizes de riscos são compostas de 2 eixos: Probabilidade X Impacto. Teoricamente, basta calcular a probabilidade de ocorrência de cada risco e seu impacto para se ter a matriz.
Entretanto, base de dados confiáveis é um artigo raro para certas operações.
Para tal, pode ser estimada a probabilidade por meio de modelos qualitativos.
As empresas de consultorias costumam a possuir alguns modelos semiprontos.
Cabe lembrar também, que definir um modelo qualitativo efetivo não é tarefa simples.
Não é raro, vemos matrizes de risco no mercado, confeccionadas por empresas de consultoria de primeira linha que nem de longe correspondem à realidade.
Tive a oportunidade de conhecer matrizes com riscos considerados raras (incêndio e explosão) apresentando estimativas de probabilidade acima de 50% e com impacto catastrófico.
Nem de longe faziam sentido.
Impossível, qualquer organização conseguir permanecer ou até mesmo sobreviver com riscos de impactos socioambientais considerados muito alto que apresentem uma probabilidade alta por um longo ou médio período.
Por um motivo lógico, rapidamente ela desiste de operar com este tipo de risco (declina operações que apresentem este risco), ou sofre um impacto tão significativo que ajusta seus sistemas de proteção para estarem adequados a estes riscos ou simplesmente quebram.
Os maiores erros na definição da estimativa de probabilidade de um risco para modelos quantitativos ocorrem quando nossa base de dados não é confiável ou quando modelamos erradamente utilizando modelos de distribuições inadequados.
Por exemplo, possuímos eventos raros (explosão de reatores nucleares ou até ataque de crocodilos) que não são em números suficientes para aplicar uma distribuição normal e mesmo assim ela é aplicada.
Para modelos qualitativos, o erro mais comum é considerar que as variáveis possuem o mesmo peso ou achar que todos os riscos possuem as mesmas variáveis causais.
Isto é muito comum quando se aplicam modelos já prontos.
Uma boa pratica a ser adotada por nós gestores é questionar qual o modelo que foi utilizado, as variáveis adotadas e a equação que foi empregada para a definição de cada risco, qual a lógica e o racional utilizado para definir o modelo.
A simples comparação da matriz com a realidade vivida e o conhecimento de especialistas mais experientes permite dizer muito sobre a credibilidade do sistema que foi utilizado para confeccionar a matriz.
A matriz de riscos define as dimensões dos riscos em termos de Impacto X Probabilidade, mas saber as dimensões dos riscos não evita que os riscos venham a se concretizar, não diminui a probabilidade da ocorrência dos mesmos e nem tampouco o seu impacto.
O gestor de riscos, após analisar detalhadamente cada risco que está plotado na matriz de riscos deve verificar quais sistemas de proteção existem para cada risco, analisando a efetividade de cada um.
Para uma análise adequada, o gestor de riscos, além da matriz de riscos, necessita ter uma tabela de avaliação dos seus sistemas de proteção definindo a efetividade de cada um.
Desta forma, ele poderá contrastar o risco (em termos de impacto e probabilidade) com a efetividade do sistema de proteção para aquele determinado risco.
O problema básico não está em ter um risco alto, mas sim em possuir um grau de risco alto aliado a um sistema de proteção com nível de vulnerabilidade elevado.
Poderíamos dizer que o problema não é possuirmos riscos altos, mas sim possuirmos riscos altos com sistemas de proteção que apresentem alto índice de vulnerabilidade.
Ou seja, a matriz não resolve o problema, ela simplesmente fornece uma dimensão do problema.
A solução passa por uma avaliação da coerência existente entre o grau de determinado risco e o nível de efetividade dos sistemas de proteção para impedi-lo, aliado a definição de um plano de ação para a mitigação destes riscos de forma consistente.
Fora isto, a matriz não passará de uma fotografia estática dos riscos e sem efeito prático nenhum.
Estamos juntos!!